quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A elusiva figura do genial Noel Rosa

Viva, para sempre!, Noel Rosa, o Poeta da Vida!
 
A relação entre fotografia e música no âmbito da cultura de massas tem sido variada e rica, para dizer o mínimo.  Para os fotógrafos , ao menos, algum dinheirinho: não há divulgação nem reportagem que não necessite de fotografias...
João Gilberto no Canecão - A.R., 1979

O "problema" é que os gênios da música, apesar das imposições da profissionalização, costumam se afastar de tudo aquilo que possa desconcentrá-los da (ou possa ser um empecilho à) sua criação.  
Por exemplo, por timidez – Chico Buarque no início da carreira. Ou mesmo, compreensivelmente, por "preguiça criativa" – Dorival Caymmi em sua rede de balanço... 
O exemplo clássico é a já tradicional reação de João Gilberto, sempre que não encontra boas condições de reprodução para o seu sensibilíssimo som.   

Acompanhar dramas como estes é um dos privilégios da carreira de fotojornalista, e me aconteceu: pude registrar em fotos (e depois, em texto) o “não show” de João Gilberto no Canecão, em 1979!  

Mas, agora é outra história: este é o  nosso momento Noel Rosa!
Nada seria o bastante para celebrar seus 100 anos, completados neste sábado, 11/12/2010...

Felizmente, pude ouvir muita gente boa falando sobre ele, em seminários e palestras, na Casa de Rui Barbosa, na Livraria da Travessa. Rosa Maria Araújo, Nei Lopes, Sérgio Cabral, Carlos Sandroni, Ruy Castro, Ricardo Prado...

João Máximo, Vivi Fernandes de Lima e Francisco Bosco - A.R., 2010
Na Biblioteca Nacional, no debate da Revista de História, Francisco Bosco justificou seus apelidos: “Poeta da Vila”, pelo valor do texto poético, para além da sintonia entre letra e música, e “Filósofo do Samba”, pela força ética da vida que escolheu viver e pela capacidade de perceber as “fraturas” da “verdade”.  

Em seguida, João Máximo desconstruiu contemporâneas e limitadas visões que acusam de “racista” a quem teve mais de 15 parceiros negros e pobres do Estácio e da Mangueira, ou de “machista” a quem disse para a amada, num samba, que “O maior castigo que eu te dou / É não te bater / Pois sei que gostas de apanhar”, indo totalmente contra o “padrão” da época e do local...

E, afinal, não podia faltar Noel Rosa na Academia Brasileira de Letras, que a sua obra é imortal!   


Carlos Didier em entrevista na ABL - A.R., 2010
 

Em rápida entrevista antes do Seminário Brasil, brasis, um dos autores, Carlos Didier, do esgotado Noel Rosa: uma biografia (com João Máximo, leia sua explicação no link) enfatizou que Noel Rosa, tão produtivo, tinha também uma grande “capacidade de escapulir”, sempre saindo para uma outra: “Viveu 26 anos, mas é como se tivesse vivido 75... Em apenas oito anos, dos 18 aos 26, fez mais que a maioria dos compositores em uma vida toda!” 

Entre suas estratégias de evasão, o fugir de fotografias... Exemplifica falando da homenagem da Estação Primeira de Mangueira, em 1933, a Orestes Barbosa, compositor de Chão de Estrelas, e também jornalista, cronista da cidade, grande incentivador da música popular.  Noel Rosa, já um sucesso, há muito tempo amigo de Cartola da Mangueira e de Ismael Silva (e muitos malandros) do Estácio, com quem criara um novo estilo de samba, compareceu ao evento, prestigiando. 
Autocaricatura de Noel Rosa
Mas, na hora da foto, todo mundo na sua melhor pose, cadê o Poeta da Vila?... Escafedera-se...

Grande parte do seu problema com a imagem vinha, evidentemente, da deformação do queixo, causada pelo uso de fórceps em seu nascimento, que lhe prejudicava o simples ato de comer. Para compensar, descobriu que, se não faria sucesso pela beleza, conseguia chamar a atenção das mulheres com as artes da música. Não é à toa que a iconografia de Noel Rosa compreende, basicamente, retratos e fotos posadas...

A ironia (e salve salve a ironia!...) é que o próprio Didier, ao falar de uma caricatura típica de Noel Rosa (de lado, o queixo retraído), que teria como referência o perfil do seu rosto na foto com a cantora Marília Batista e seu grupo, acabou apresentando um momento desprevenido de Noel Rosa, um Noel informal, despreocupado, inebriado pela própria obra: a música não só amansa as feras como faz relaxar os humanos...
 
Marília Batista canta Noel Rosa - s/d, Arquivo Almirante, 1933
Na foto, o melhor do poeta: a sua capacidade de observação, o seu afeto pela criação musical, a sua simplicidade na vida, a percepção do mundo do ponto de vista dos despossuídos, dos que não têm "nem pra gastar", uma visão do mundo que explicitou através de suas músicas. 
Entre elas “Com que roupa?”, revolucionário samba  de sucesso imediato em plena época da Revolução de 30, calcado ironicamente no Hino Nacional.
Em suma, como toda a sua obra, uma foto musical do Brasil de então...
[Atualizado em 14/12/2010]

domingo, 5 de dezembro de 2010

Com a mão na taça: o melhor momento do futebol brasileiro

Não que o Campeonato Brasileiro de cada ano (depende das chances do seu time...) seja desinteressante.
Desta vez, melhor pensar no grau de condensação simbólica que uma fotografia pode adquirir no tempo, este grande solucionador de dúvidas...
É do que trata a ideia de foto síntese, que, improvisando uma definição, seria “a fotografia capaz (para toda uma maioria de observadores) de fazer (ou ser) o resumo, o sumário, a síntese (o símbolo mais compacto possível) de um tema, assunto, evento, período etc”.

Foi o assunto do evento Foto Síntese , da ECO/UFRJ, usando como exemplo o futebol brasileiro. Seu melhor momento, sem medo de errar, é a conquista da taça Jules Rimet, a Copa do Mundo... É nossa, mas, hoje, apenas na memória: foi roubada e derretida em 1984...
Sendo apenas um exercício e o assunto de amplo conhecimento, ao menos para a minha geração, considerei a pesquisa como feita e escolhi logo as fotos sínteses de cada Copa: Bellini levantando a taça, Garrincha garantindo o Bi, Pelé liderando o Tri.

Bellini - s/d, Suécia, 1958
A Copa de 1958 foi a da “superação”. Para o futebol, das lembranças da “tragédia” de 50, do “Maracanazo”. Para o povo, a nação, do “complexo de vira-lata”, que Nelson Rodrigues definiu como “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”. 
"Estátua do Bellini" - AR, 2010

O gesto de Bellini, levantando a taça que representa o mundo acima da cabeça do rei da Suécia, sintetiza o momento. E o fez, detalhe, em vez de colocar debaixo do braço e sair, a pedido dos fotógrafos...

Tão marcante, que ao erguerem à frente do Maracanã, no Rio, após a Copa de 62, uma estátua “genérica” aos campeões, o povo logo a nomeou a “Estátua do Bellini”, como conta Ruy Castro, com humor, na revista Brasileiros.



Garrincha contra Chile - s/d, Chile, 1962
Em 1962, caçado implacavelmente nos gramados do Chile, mas driblando todos os obstáculos (principalmente os extracampo, da paixão vulcânica por Elza Soares à expulsão na semifinal), Garrincha foi a peça chave da vitória do Brasil, nesta que foi a Copa do “jeitinho”..


Capa "Veja na História"

Simbolizando um país que se desenvolvia à base de muita “malandragem”, a genialidade de Garrincha (o “Anjo das Pernas Tortas”, para Vinicius de Moraes) é tão reconhecida que até no futuro se tornou capa de revista...




A Copa de 1970 é a da “qualidade”. A da preparação do time, um tanto militarizada, mas, principalmente, a dos jogadores, o melhor grupo, comprovado em campo, já reunido. Sua eficiência, aliada à paixão do brasileiro, possibilitou à arte do futebol ganhar da tensão política produzida pela ditadura civil militar do golpe de 64. 
Predominou a ufanista "Eu Te Amo Meu Brasil”, de Os Incríveis. 

Pelé foi o craque do time, o Rei, mas sua corte (com ele, na foto, Tostão e Jairzinho) era do mais alto gabarito...    

Aproveitemos para observar um exemplo da composição da imagem como diferencial na escolha. Alguém deixaria de escolher a da esquerda?...
São fotos horizontais, mas costumam receber um corte vertical, para destacar os jogadores.

 
Gol de Pelé - Orlando Abrunhosa, México, 1970
Gol de Pelé - Lemyr Martins, México, 1970





Ora, não há melhor mandato histórico para uma fotografia do que ser copiada (e à mão!), traço definitivo de sua importância social.
Em 2010, a revista digital Sete Fios homenageou as vitórias em Copas com uma série de charges. Com exceção de 58, é o mesmo resultado.
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Bem antes, em 1970, logo após o Tri, os Correios lançaram a série de selos que homenageia a conquista da Jules Rimet, calcadas em fotos (o lance de Garrincha na de 62 é meio estranha...).
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São exemplo que ajudam a corroborar as, no caso, quase intuitivas escolhas destas fotos sínteses.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Questão de consciência: o negro na fotografia brasileira

João Cândido

Glória a todas as lutas inglórias 
que através da nossa História 
não esquecemos jamais



As comemorações do centenário da Revolta da Chibata, com homenagens ao Mestre Sala dos Mares João Cândido, o Almirante Negro, traz à tona a presença do negro na fotografia brasileira.
Ocorrida em 1910, a Revolta da Chibata teve considerável cobertura fotojornalística, apesar das limitações políticas e técnicas (saiba mais nos links).
 
Na foto, publicada pela revista O Malho em 27 de Novembro de 1910, a bordo do encouraçado Minas Gerais, João Cândido lê os decretos presidenciais de abolição dos castigos físicos na Marinha e de anistia aos revoltosos, tendo à frente o Cmte. Pereira Leite, que aguarda a devolução do comando.

João Cândido discute anistia com Pereira Leite - O Malho, 1910
Anistia que foi desconsiderada logo em seguida pelo governo de Hermes da Fonseca, transformando-se em prisões, desterros e mortes dos marinheiros.

 No detalhe, o fotógrafo flagrado no lado errado do lance... 
Note-se, além da elegância do seu traje, o tamanho (e imagine-se o peso) do equipamento fotográfico. Seria, pelo tipo físico assemelhado, Augusto Malta, autor de importantes registros do episódio?...
Tratados com uma violência escravocrata, os marujos, negros na sua grande maioria, para surpresa da sociedade de então, demonstraram uma alta competência, da organização do movimento ao comando dos mais modernos navios de guerra da época.

Os registros fotográficos da Revolta da Chibata dão uma dimensão realista às relações sociais e étnicas do momento, mas a atitude escravocrata também persistia na imprensa, que estampou diversas alusões de cunho racista contra as lideranças do movimento. 
Por exemplo, na capa da revista Careta, o que seria a resultante “inversão de papéis”: marinheiros brancos, descalços e subservientes, sob comando de oficial negro, com traços forçadamente simiescos.




Este, justamente, um dos temas da palestra do pesquisador e colecionador George Ermakoff, autor do livro O Negro na Fotografia Brasileira do Século XIX, na biblioteca do Centro Cultural da Justiça Federal (Rio), no dia 23/11/2010, por conta das comemorações da Semana de Consciência Negra.
O editor George Ermakoff, ladeado por Cristina Paiva (biblioteca CCJF) e Tom Farias Alves (biógrafo do poeta Cruz e Souza, do abolicionista José do Patrocínio e da escritora Carolina Maria de Jesus).
No século XIX, antes da Abolição, a fotografia dava às pessoas negras, predominantemente, um tratamento de figuras exóticas, transformando as imagens dos diversos tipos físicos negros em um produto comercial, que, interessando especialmente a estrangeiros, se tornou um bom negócio para os fotógrafos, que os fotografavam em seus estúdios.


Escravo Mina - Cristiano Jr, c. 1865
Usando as imagens de seu livro como referência, Ermakoff falou do comércio de fotos de negros brasileiros, vendidas a varejo como cartões postais, especialmente as de Cristiano Jr, na década de 1860 no Rio de Janeiro.



Escravo Mina Ossa, Augusto Stahl,1865














Mas, também, do uso pretensamente científico destas fotografias. 
Negra vendedora - Alberto Henschel, 1870


Coleções delas foram parar em instituições americanas, como as de Augusto Stahl (alemão, no Brasil entre 1853 e final dos anos 60), que o pesquisador Luiz Agassiz levou para Harvard, EUA, ou as de Alberto Henschel (alemão, entre 1866 e 1882 teve estúdios em Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo), que foi levada em quantidade para museus alemãs, de onde Ermakoff os resgatou para seu livro.



Mas faz muito tempo...

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 (O Mestre Sala dos Mares
Aldir Blanc e João Bosco)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Modernidade total: o fotógrafo sumiu!

Nada melhor do que uma luz (ainda mais se tratando de fotografia), um flash!...
Este veio em pleno seminário Revistas ilustradas: modos de ler e de ver o Rio de Janeiro na Primeira República, na Casa de Rui Barbosa, nos dias 16 e 17 de Nov/2010, quando uma típica teoria de comentarista de palestra virou, no caso, uma luminosa percepção...

O desenho, de época, do cartaz do Seminário inclui uma máquina fotográfica...
Imaginem a cena: início do século XX, o Brasil se torna uma República turbulenta e militarista, ainda controlada por forças regionais, que, aos poucos, se “civiliza”, um país cada vez mais “moderno”... 
Os novos governantes querem espantar do país os ares monárquicos, aliviar a capital de seu passado colonial, inscrito ainda na malha urbana. Com prefeitos eficientes, aterros e avenidas, o Rio de Janeiro aspira copiar a recem urbanizada Paris: a elite carioca poderá flanar em alto estilo...
Ora, é tempo da câmera Kodak, com o lema “você aberta o botão e nós fazemos o resto“, as pessoas fotografavam (“kodakeavam”) à exaustão! Nas ruas, a fotografia é uma febre e as revistas ilustradas também estão entupidas delas. 
O tema mais comum, como sempre, é gente, agora organizada e classificada em fotos posadas, nos mais variados grupos. Também a arquitetura eclética das fachadas da Av. Central ou da Exposição de 1922 e até as conseqüências da remoção de moradores e do inchamento da cidade: favelas também são fotografadas...

Afinal, se há tantas fotografias circulando, de onde foi que o fotógrafo sumiu?... 
Ah, sim... O fotógrafo sumiu dos créditos!...
É verdade: não há praticamente qualquer referência aos autores de milhares de fotografias publicadas pela imprensa carioca no período. Já outros produtores de imagem (desenhistas, caricaturistas, ilustradores) e de texto (escritores, cronistas, articulistas) têm seus nomes continuamente citados...
Edição de fotos por J. Carlos em O Malho - A.Ramos, 2010


Julieta Sobral (PUC-Rio), designer, ao passar J. Carlos em revista, mostrou uma face menos conhecida do espetacular desenhista, o seu papel de editor de arte no grupo editorial da revista O Malho, responsável pela publicação de uma profusão de fotografias, praticamente todas sem o crédito do fotógrafo...


É realmente um longo hiato... No Império, a fotografia no Brasil teve reconhecimento amplo, em grande parte devido ao interesse de D. Pedro II por ela. Além de outorgar títulos de fotógrafo da Casa Imperial, induziu instituições a designarem os seus (por exemplo, Marc Ferrez na Marinha). Na segunda parte do século XIX, as revistas eram território de ótimos ilustradores, que, muitas vezes, pelo dever de informar, reproduziam fotografias de forma quase exata (como Angelo Agostini, em sua Revista Illustrada) e costumavam dar crédito ao fotógrafo, um meio de garantir ao leitor a veracidade da imagem.


Pois, nesta época, início do século XX, é impressionante a “clandestinidade” do fotojornalista... Cláudia de Oliveira (EBA/UFRJ), umas das autoras do livro O Moderno em revistas, falando neste Seminário sobre o tema Fotografia, cidade moderna e revistas ilustradas, diz ter identificado nas revistas do período de 1900 a 1920 apenas um fotógrafo (um!...). Assinando-se Brum (?), publicou fotos na Fon-Fon, em O Malho e em A Careta, mas não connseguiu maiores informações.

O “flash” do momento foi vislumbrar que, no período, a tal ponto predomina a visão da fotografia como mera reprodutora do mundo natural e do fotógrafo como um simples apertador dos botões de uma caixa preta (vide Vilém Flüsser), que esta percepção, advinda ainda da possibilidade de reprodução técnica de fotografias por novos equipamentos gráficos (vide Walter Benjamin) e acrescida da adiantada profissionalização das empresas editoras de revistas (e jornais), tudo isto simplesmente faz com que o fotógrafo desapareça...

Do ponto de vista deste fotógrafo, a raiz da desvalorização está nas limitações técnicas (câmeras grandes, pesadas), na tendência para fotos únicas pela dificuldade de obter sequências (sistema de chapas), na necessária predominância da foto posada (baixa sensibilidade dos filmes). 
Realmente, da época, ficaram nomes de fotógrafos de registro formal, por conta de suas inserções em instituições públicas, cujo melhor exemplo é Augusto Malta, fotógrafo da Prefeitura, de 1900 (com Pereira Passos) até 1936.
É assunto a ser desenvolvido, mas foi animador receber da professora Tania de Lucca (Unesp), que falara sobre O gênero revista ilustrada em questão: desafios e possibilidades, concordância e apoio à tese, ao final do primeiro dia, entre goles de cafezinho...

Afinal, os fotógrafos de imprensa do início do século XX, eram eles apenas “paus-mandados”?...
Bom tema para pesquisadores que não se limitem às belas imagens dos fotógrafos já emoldurados pela História...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Foto Síntese da ECO

Filipeta do evento - autor: Fábio Portugal
Com a acolhedora organização de Mathilde Molla, a ECO - Escola de Comunicação - da UFRJ desenvolveu, no período de 03 a 10 de Novembro de 2010, o evento Foto Síntese.



De início, Foto Síntese promoveu uma Oficina Fotográfica, nos dias 3, 4, 8 e 9 de Novembro, com saídas fotográficas de tema livre. É interessante notar que os alunos utilizaram câmeras analógicas, que eles mesmos revelaram os filmes PB e que fizeram, ainda, a ampliação das fotografias no laboratório da escola, uma experiência que dificilmente se repetirá em suas vidas e, aliás, nas nossas: virou História... Com as as fotos editadas, montou-se uma exposição no prédio da Central de Produção Multímidia, no próprio campus da Praia Vermelha.

Início da palestra - Mathilde Molla, 2010
Convidado a encerrar o evento, apresentei uma Palestra baseada em Foto síntese, recente postagem deste blog, com a minha versão do tema, incluindo a apresentação de novos exemplos. 

Dante Gastaldoni - Mathilde Molla, 2010
No auditório Luiz Fernando Perazzo mais de 60 alunos, a maioria da disciplina Fotojornalismo, ministrada pelo Prof. Dante Gastaldoni, responsável acadêmico pelo evento. 

Além de fazer um apanhado das questões que envolvem as fotos históricas, expliquei meu processo de escolha de fotos sínteses, exemplificando com as relativas às primeiras três Copas do Mundo de futebol ganhas pelo Brasil. 

Geral da palestra - Mathilde Molla, 2010


No final, para a minha mais alta satisfação, não escapei de responder, dado o vivo interesse da garotada, a umas tantas perguntas sobre os percalços e os prazeres da carreira de fotojornalista, a minha e a dos outros... 

Sem dúvida, pelo menos para mim, foi muito divertido, mas o importante mesmo é que tenha sido útil (espero que sim!) aos nossos futuros jornalistas.

sábado, 6 de novembro de 2010

Arquivos online, uma história bem enrolada!

Projetadas na mesa-redonda Coleções fotográficas online, da Casa de Rui Barbosa, as duas fotografias – muito parecidas, do mesmo assunto (estátuas de faraós do Egito), do mesmo ano (1872) – escancaram uma questão advinda de navegações virtuais: o efeito (e possíveis atenuantes) do tempo sobre as fotografias.

Perceba-se as diferenças de estado, do material e da imagem. Ambas são da Collecção D. Thereza Christina Maria. A da esquerda, de um dos álbuns preservado à maneira tradicional; a outra, uma das 590 fotos “enroladinhas” da coleção, um sucesso do acaso... 
Projeção BN Digital na FCRB - A. Ramos, 2010
Em 1891, após a morte da esposa, no exílio de Paris, D. Pedro II, em nome dela, doou os objetos da Quinta da Boa Vista (incluindo 23.000 fotografias) à Biblioteca Nacional, à época ocupando um prédio da rua do Passeio. Transferidas para o prédio atual, a maioria das fotos continuou em molduras ou álbuns, e as avulsas foram fechadas em caixas de folha-de-flandes. Abertas mais de um século depois, estas fotos, enroladas por efeito da umidade e jamais expostas à luz, apresentavam imagens bem melhores que as outras!...

Nem todas as fotos antigas tiveram tal sorte, e surgem perguntas... Devem ser apresentadas com as marcas do tempo? No tom sépia (vide postagem anterior) do envelhecimento “natural”?... Ou, desde que preservado o conteúdo, da forma mais nítida possível, com cada detalhe realçado por um “banho” de Photoshop?...
A questão, agora, brotou no Blog da Josefina, do incansável fotógrafo e comentarista, Cláudio Versiani, que compara a primeira foto a mostrar um ser humano, um daguerreótipo do próprio Daguerre (Paris, 1838), com a versão colorizada, quase psicodélica (na minha opinião...), do blog Lunarlog
E floresceu no Fotomix’s Weblog, de alta qualidade reflexiva sobre técnicas fotográficas, onde o autor, Guaracy Monteiro, usa o Google para mostrar múltiplas e evidentes variações de imagens bastante conhecidas. 
Concordando no geral, observo, porém, que embora algumas intervenções tendam para a pop-art, outras podem ser práticas e úteis, se não pretenderem substituir a imagem original, mas apenas “atualizá-la” ou destacar aspectos (contraste, grão etc) que acrescentem informações. Em suma, como sempre, não há certezas...

Ainda bem que há quem cuide de guardar, registrar e, uma hora dessas, possibilitar ás fotos históricas ressurgirem à nossa frente!... 
Exatamente o assunto da mesa-redonda. 
Projeção Arquivos Pessoais FGV na FCRB - A. Ramos, 2010


Martina Spohr, afirmativa, apresentou o programa de digitalização de Arquivos Pessoais da Fundação Getúlio Vargas, que pretende, ao final de 2011, ter suas atuais 80.000 fotos acessíveis para pesquisa online, com a utilização de seu próprio sistema, mais eficiente que o Picasa, detetor e identificador de faces.
Reprodução da Internet

Com graça, Lúcia Maria Velloso de Oliveira apresentou a base Iconografia da Fundação Casa de Rui Barbosa, que vem sendo integrada às bases “descritivas” do acervo, visando futura integração das pesquisas. Com imagens de Rui Barbosa, do museu e de eventos, foi aberta aos internautas em plena comemoração dos 80 anos da Casa de Rui Barbosa, no Dia Nacional da Cultura, 05/11, data do seu nascimento.

E, fechando o círculo, falou pela Biblioteca Nacional o animado trio Vinicius Martins (autor da comparação visual acima), Ângela Bittencourt e Geraldo Gonçalves, apresentando, além do trabalho de digitalização das fotos de Pedro II, o portal digital conjunto com a Biblioteca Nacional francesa e vários projetos para 2011.

Nas três instituições, as fotos estão disponíveis na Internet para cópia em baixa resolução (72dpi) ou em pdf, mas sofrem restrições para outros formatos e usos, dependendo de complicadas questões de direitos autorais, de imagem etc, que as instituições até tentam contornar. Assunto para outra postagem, talvez, mais precisamente, para uma outra legislação...

Lúcia (FCRB), Martina (FGV), Johanna (USP), Vinicius, Ângela e Geraldo (BN) - A. Ramos, 2010
Moderada pela Profa. Johanna Smit, da USP, a mesa (mais um paradoxo do dia!) não era nada redonda, e sim retangular, até bem comprida... 
Em compensação, mostrou-se profundamente envolvida, enrolada mesmo, no papel (do presente!) de um efetivo esforço de disponibilização online de acervos fotográficos, para nossa comemoração!...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mulheres no poder

Não sei se é impressão minha, mas as mulheres brasileiras estão diferentes desde o domingo, 31 de outubro de 2010...
Merecidamente empoderadas, como diriam nos meios acadêmicos... 
Ainda que lhes seja, no Brasil, algo muito custoso: somos um país de pouca representação feminina na política
Esta é uma história longa e lenta, mas tem suas heroínas...

Não há fotografias (nem tinha sido inventada ainda!...) da primeira mulher a exercer o poder executivo no Brasil, a arquiduquesa da Áustria e imperatriz do Brasil, Maria Leopoldina Josefa Carolina (aqui, numa “pré-foto”, uma gravura "realista"). 
Pois, na verdade, foi Leopoldina quem assinou o decreto de Independência do Brasil!  
Exercendo a regência, em Agosto de 1822, durante viagem de D. Pedro I a São Paulo, recebeu notícias de Portugal, de críticas e ameaças a ele e a D. João VI. Em acordo com José Bonifácio de Andrada e Silva, reuniu o Conselho de Estado e assinou, a 2 de setembro de 1822, o decreto de Independência do Brasil. Junto com as notícias, enviou a Pedro I uma carta de José Bonifácio e outra sua, em que adverte: "O pomo está maduro; colhe-o já, senão apodrece". A D. Pedro, às margens do Ipiranga, não restou mais que "Independência ou Morte"...

Já a segunda, tem toda uma vasta coleção de fotos, a Coleção Princesa Isabel!... 
Princesa Isabel em traje de aclamação como regente. 
Autor desconhecido, 1887.

Diga-se de passagem, foi a primeira senadora brasileira, direito de herdeiros do trono a partir dos 25 anos de idade, segundo a constituição imperial brasileira de 1824.

E está ligada a um momento marcante da fotografia brasileira, o registro de sua aclamação, pela terceira vez, como Regente (por viagem de D. Pedro II à Europa), em 1887, feita

 Aclamação da Princesa Isabel como Regente - Marc Ferrez, 1887
por Marc Ferrez na catedral do Rio. 

É considerada a primeira foto com uso de flash de magnésio no Brasil, em equilíbrio com a luz ambiente. 
Note-se que, devido à longa velocidade de exposição, várias pessoas estão “borradas”...


Durante esta última regência, arrematou a luta pela Abolição da Escravatura, em que se empenhara profundamente, ao assinar no Paço Imperial, diante de cerca de 10.000 pessoas, a Lei Áurea, momento em que recebe de José do Patrocínio, um dos maiores abolicionistas, o título de "Princesa Redentora".



Dilma Rousseff - Autor desconhecido, 2010.
Tantos anos depois, desta vez pela vontade soberana do povo brasileiro através de uma eleição absolutamente democrática, outra mulher recebe o poder executivo, agora na já mais que centenária república: Dilma Rousseff.

Espera-se (mas só a História dirá) que, a exemplo de suas longínquas antecessoras,  consiga, a favor do povo brasileiro, resultados tão libertadores, tão redentores quanto os delas...